Ilhada em Mim - Sylvia Plath
A partir dos escritos pessoais da poetisa norte-americana Sylvia Plath.
Espetáculo indicado ao Prêmio APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte, como Melhor Direção de 2014.
Ficha Técnica
Texto Gabriela Mellão
Direcão e Cenografia André Guerreiro Lopes
Elenco Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes
Figurinos Fause Haten
Iluminação Marcelo Lazzaratto
Concepcão Sonora e Trilha Original Gregory Slivar
Assistente de Direção e Direção de Palco Rafael Bicudo
Direção de Produção Djin Sganzerla
Produção Patricia Torres, Joyce Nogueira
Contra-regras Jair Nascimento, Henrique Dias Alves, Leo Braz,
Operacão de Som Renato Garcia
Operação de Luz Juarez Adriano
Assessoria de Imprensa Frederico de Paula – Nossa Senhora da Pauta
Fotos: Jennifer Glass, Wilson Melo, Cleyton Guilherme
Direcão e Cenografia André Guerreiro Lopes
Elenco Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes
Figurinos Fause Haten
Iluminação Marcelo Lazzaratto
Concepcão Sonora e Trilha Original Gregory Slivar
Assistente de Direção e Direção de Palco Rafael Bicudo
Direção de Produção Djin Sganzerla
Produção Patricia Torres, Joyce Nogueira
Contra-regras Jair Nascimento, Henrique Dias Alves, Leo Braz,
Operacão de Som Renato Garcia
Operação de Luz Juarez Adriano
Assessoria de Imprensa Frederico de Paula – Nossa Senhora da Pauta
Fotos: Jennifer Glass, Wilson Melo, Cleyton Guilherme
Sobre a Montagem
SYLVIA E TED
Os últimos meses de vida da poetisa Sylvia Plath, antes de cometer suicídio ao 30 anos de idade, são um enigma. Recém separada do poeta Ted Hughes, com quem teve dois filhos e viveu uma intensa história de amor, Sylvia vive simultaneamente o extremo desespero e a liberação de uma energia criativa sem precedentes. Uma identidade poética única se forma neste período, autobiográfica, feroz, irônica, dando origem a poemas de uma força e beleza perturbadoras, postumamente publicados por Ted, no livro Ariel de 1965. A obra, vencedora do prêmio Pulitzer, eternizou Sylvia como uma das maiores poetisas do século XX.
Os paradoxos continuaram a ser uma constante na mítica do casal. Ted, ao virar o editor póstumo de Sylvia, vira, ao mesmo tempo, seu censor. Remove de Ariel poemas que considera demasiadamente biográficos, destrói um diário pessoal de Sylvia para, segundo ele, proteger a intimidade dos filhos. “Considerava o esquecimento parte essencial da sobrevivência”, justificou-se. Por 35 anos Ted calou-se sobre a relação dos dois. No final da vida quebra seu silêncio com a publicação de “Cartas de Aniversario”, um comovente livro de poemas direcionados a Sylvia, ao seu “fantasma”. Pouco tempo depois da publicação, Ted falece.
SURREALISMO TENSO
A Cia Lusco-Fusco mergulha neste universo de forças complexas e de poesia extrema não em busca de definições, não para decifrar mas para vivenciar o enigma. Iluminar o que há nele de mobilizador, provocador e profundamente humano.
Transpor o universo de Sylvia para a cena, dar forma a seus estados mentais, ao “surrealismo tenso” de sua obra, são desafios que reforçam em nós uma visão do teatro como arte experiencial, o espaço do encontro: o que acontece em cena se completa na mente do espectador, de acordo com sua própria vivência, imaginação e história pessoal. É a beleza e potência do teatro, esta arte do tempo presente, ao mesmo tempo coletiva e essencialmente pessoal. A poética de Sylvia, gerada com impulsos de criação e destruição, é plena de vida, de uma energia condensada, que nos contamina e nos coloca em ação. A história de paixões, desencontros e abismos vivida pelo casal de poetas e traduzida em suas obras, provocaram suspensões, fixações no tempo, congelamento de emoções e potencialidades. Ao recortar este universo cenicamente, o teatro abre a possibilidade de iluminar o que também dentro de nós se fixou, de revelar e aquecer nossa humanidade, de provocar o degelo.
O mergulho neste processo de criação conduziu-nos a paisagens desconhecidos e sutis, não se atravessa impunemente a grande poesia.
André Guerreiro Lopes e Djin Sganzerla
Os últimos meses de vida da poetisa Sylvia Plath, antes de cometer suicídio ao 30 anos de idade, são um enigma. Recém separada do poeta Ted Hughes, com quem teve dois filhos e viveu uma intensa história de amor, Sylvia vive simultaneamente o extremo desespero e a liberação de uma energia criativa sem precedentes. Uma identidade poética única se forma neste período, autobiográfica, feroz, irônica, dando origem a poemas de uma força e beleza perturbadoras, postumamente publicados por Ted, no livro Ariel de 1965. A obra, vencedora do prêmio Pulitzer, eternizou Sylvia como uma das maiores poetisas do século XX.
Os paradoxos continuaram a ser uma constante na mítica do casal. Ted, ao virar o editor póstumo de Sylvia, vira, ao mesmo tempo, seu censor. Remove de Ariel poemas que considera demasiadamente biográficos, destrói um diário pessoal de Sylvia para, segundo ele, proteger a intimidade dos filhos. “Considerava o esquecimento parte essencial da sobrevivência”, justificou-se. Por 35 anos Ted calou-se sobre a relação dos dois. No final da vida quebra seu silêncio com a publicação de “Cartas de Aniversario”, um comovente livro de poemas direcionados a Sylvia, ao seu “fantasma”. Pouco tempo depois da publicação, Ted falece.
SURREALISMO TENSO
A Cia Lusco-Fusco mergulha neste universo de forças complexas e de poesia extrema não em busca de definições, não para decifrar mas para vivenciar o enigma. Iluminar o que há nele de mobilizador, provocador e profundamente humano.
Transpor o universo de Sylvia para a cena, dar forma a seus estados mentais, ao “surrealismo tenso” de sua obra, são desafios que reforçam em nós uma visão do teatro como arte experiencial, o espaço do encontro: o que acontece em cena se completa na mente do espectador, de acordo com sua própria vivência, imaginação e história pessoal. É a beleza e potência do teatro, esta arte do tempo presente, ao mesmo tempo coletiva e essencialmente pessoal. A poética de Sylvia, gerada com impulsos de criação e destruição, é plena de vida, de uma energia condensada, que nos contamina e nos coloca em ação. A história de paixões, desencontros e abismos vivida pelo casal de poetas e traduzida em suas obras, provocaram suspensões, fixações no tempo, congelamento de emoções e potencialidades. Ao recortar este universo cenicamente, o teatro abre a possibilidade de iluminar o que também dentro de nós se fixou, de revelar e aquecer nossa humanidade, de provocar o degelo.
O mergulho neste processo de criação conduziu-nos a paisagens desconhecidos e sutis, não se atravessa impunemente a grande poesia.
André Guerreiro Lopes e Djin Sganzerla
Fortuna crítica
“A surpresa chegou de São Paulo, com a estreia nacional de Ilhada em Mim, texto da jornalista Gabriela Melão, baseado em fragmentos da poesia atormentada de Sylvia Plath, com Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes. Numa cenografia em que os elementos se decompõem na mesma progressão da angústia existencial da poeta americana, e em que os sinais do seu desajuste interior são conotados por vigorosa simbologia visual (água como afogamento), os dois atores, como projeções das vozes de Sylvia e seu marido Ted Hughes, submergem numa poça de solidão em que pedaços de móveis e retratos de família se desfiguram da realidade. Uma instigante visão sobre Sylvia Plath.”
Macksen Luiz , critico do jornal O Globo, em resenha sobre o Festival Tiradentes em Cena.
“O espetáculo “Ilhada em Mim”, dedicado à poetisa Sylvia Plath, dissolve as fronteiras entre teatro e artes visuais. O resultado é plasticamente belo e dramaticamente intenso. O projeto do grupo Estúdio Lusco Fusco pressupõe um público conhecedor da vida e obra de Plath (1932 – 1963), mas enquanto teatralidade é autônomo na fluidez e subjetividade derivados da pintura e da dança.(…) Frieda Hughes, no prefácio do livro póstumo “Ariel”, prefere ver a mãe celebrada não como vítima, mas alguém que viveu nos limites de suas possibilidades. Diz que esses poemas finais representam uma realização de altíssimo nível em um estado emocional à borda do precipício. Acrescenta que os poemas “não podem ser enfiados na boca de atores, em qualquer invenção cinematográfica de sua história, na expectativa de que possam dar vida a ela novamente.” Conclui que a versão ficcional dessa existência não deve “parodiar a vida que ela mesmo viveu. Desde que morreu, ela tem sido dissecada, analisada, reinterpretada, ficionalizada e, em alguns casos, completamente fabricada”. Frieda encontrou ressonância na fina sensibilidade de escritora de Gabriela Mellão e no espetáculo de Andre Guerreiro Lopes. Levou-se à cena algo que pode ser visto como um adagio existencial. (…) De um lado movimentos de pressão e descompressão corporal e explosões verbais curtas na apaixonada interpretação de Djin Sganzerla. Do outro, os lentos deslocamentos do marido que, como ator, o mesmo Lopes executa com um ar entre o distante e o sonhador. Essa dança misteriosa sobre espaços molhados é a metáfora da relação sem saída entre dois expoentes da poesia contemporânea de língua inglesa. Não há explicações realistas para um acontecimento que despertou paixão, fúria, equívocos e acusações. (…) O espetáculo prende a atenção porque, em vez de julgar, observa compassivo os desencontros nas relações humanas. Com isso, estimula ainda a leitura de “Ariel” e outros livros de Plath, como o romance ”Redoma de Vidro”
Jefferson Del Rios, em crítica publicada no jornal O Estado de São Paulo.
“Eu queria ter veia poética para poder traduzir com palavras adequadas todas as sensações que tive ao assistir este espetáculo. A encenação de André Guerreiro Lopes é absolutamente sensitiva e fica difícil escrever sobre ela de maneira racional. Em artigo de Rodrigo Garcia Lopes sobre a poetisa Sylvia Plath (1932-1963), há a citação de uma frase do poeta russo Ievguêni Ievtuchenko (1933-) que diz: “A autobiografia de um poeta é sua poesia. O resto não passa de nota de rodapé”. O encenador, conhecedor ou não dessa frase, segue a mesma linha de pensamento na realização do seu espetáculo. Se não são as poesias, são frases ditas por Plath que compõem o texto costurado por Gabriela Mellão e tão bem traduzido cenicamente por Guerreiro Lopes. Essa tradução cênica revela-se no cenário cheio de metáforas como a água que pinga dos objetos de gelo (A vida que se esvai? O tempo que passa?), cadeiras e sofás semi enterrados, a água que envolve a cena e que pode ser tanto sinal de vida como de morte (o gás que matou Sylvia). Aqui sinto falta daquele pendor poético citado acima para poder significar todas as sensações produzidas pelo cenário, parte integrante e fundamental da dramaturgia de cena. Aliem-se ao cenário, o precioso desenho de luz de Marcelo Lazzaratto e a significativa trilha sonora de Gregory Slivar. Quanto aos atores, André Guerreiro Lopes compõe o marido Ted Hughes (1930-1998) arrogante e senhor de si que destrói escritos da companheira com prazer insuportável (momento excelente do espetáculo onde os efeitos sonoros sincronizados com o amassar dos papéis ampliam os gestos do ator). Djin Sganzerla, pessoa delicada e singela dotada de grande beleza, adquire em cena a máscara trágica de Sylvia Plath em seus últimos dias de vida e expressa sua angústia interior, suas fraquezas e sua dependência e amor por um homem que só a diminuiu e desprezou. Ilhada em Mim revela-se um belo momento do teatro, onde a poesia sobe à cena para contar um pouco sobre Sylvia Plath, por meio da memorável interpretação de Djin Sganzerla e da sensível e poética direção de André Guerreiro Lopes. Se eu fosse poeta escreveria muito mais...”
José Cetra Filho no livro “O Teatro Paulistano de 1964 a 2014”.
Macksen Luiz , critico do jornal O Globo, em resenha sobre o Festival Tiradentes em Cena.
“O espetáculo “Ilhada em Mim”, dedicado à poetisa Sylvia Plath, dissolve as fronteiras entre teatro e artes visuais. O resultado é plasticamente belo e dramaticamente intenso. O projeto do grupo Estúdio Lusco Fusco pressupõe um público conhecedor da vida e obra de Plath (1932 – 1963), mas enquanto teatralidade é autônomo na fluidez e subjetividade derivados da pintura e da dança.(…) Frieda Hughes, no prefácio do livro póstumo “Ariel”, prefere ver a mãe celebrada não como vítima, mas alguém que viveu nos limites de suas possibilidades. Diz que esses poemas finais representam uma realização de altíssimo nível em um estado emocional à borda do precipício. Acrescenta que os poemas “não podem ser enfiados na boca de atores, em qualquer invenção cinematográfica de sua história, na expectativa de que possam dar vida a ela novamente.” Conclui que a versão ficcional dessa existência não deve “parodiar a vida que ela mesmo viveu. Desde que morreu, ela tem sido dissecada, analisada, reinterpretada, ficionalizada e, em alguns casos, completamente fabricada”. Frieda encontrou ressonância na fina sensibilidade de escritora de Gabriela Mellão e no espetáculo de Andre Guerreiro Lopes. Levou-se à cena algo que pode ser visto como um adagio existencial. (…) De um lado movimentos de pressão e descompressão corporal e explosões verbais curtas na apaixonada interpretação de Djin Sganzerla. Do outro, os lentos deslocamentos do marido que, como ator, o mesmo Lopes executa com um ar entre o distante e o sonhador. Essa dança misteriosa sobre espaços molhados é a metáfora da relação sem saída entre dois expoentes da poesia contemporânea de língua inglesa. Não há explicações realistas para um acontecimento que despertou paixão, fúria, equívocos e acusações. (…) O espetáculo prende a atenção porque, em vez de julgar, observa compassivo os desencontros nas relações humanas. Com isso, estimula ainda a leitura de “Ariel” e outros livros de Plath, como o romance ”Redoma de Vidro”
Jefferson Del Rios, em crítica publicada no jornal O Estado de São Paulo.
“Eu queria ter veia poética para poder traduzir com palavras adequadas todas as sensações que tive ao assistir este espetáculo. A encenação de André Guerreiro Lopes é absolutamente sensitiva e fica difícil escrever sobre ela de maneira racional. Em artigo de Rodrigo Garcia Lopes sobre a poetisa Sylvia Plath (1932-1963), há a citação de uma frase do poeta russo Ievguêni Ievtuchenko (1933-) que diz: “A autobiografia de um poeta é sua poesia. O resto não passa de nota de rodapé”. O encenador, conhecedor ou não dessa frase, segue a mesma linha de pensamento na realização do seu espetáculo. Se não são as poesias, são frases ditas por Plath que compõem o texto costurado por Gabriela Mellão e tão bem traduzido cenicamente por Guerreiro Lopes. Essa tradução cênica revela-se no cenário cheio de metáforas como a água que pinga dos objetos de gelo (A vida que se esvai? O tempo que passa?), cadeiras e sofás semi enterrados, a água que envolve a cena e que pode ser tanto sinal de vida como de morte (o gás que matou Sylvia). Aqui sinto falta daquele pendor poético citado acima para poder significar todas as sensações produzidas pelo cenário, parte integrante e fundamental da dramaturgia de cena. Aliem-se ao cenário, o precioso desenho de luz de Marcelo Lazzaratto e a significativa trilha sonora de Gregory Slivar. Quanto aos atores, André Guerreiro Lopes compõe o marido Ted Hughes (1930-1998) arrogante e senhor de si que destrói escritos da companheira com prazer insuportável (momento excelente do espetáculo onde os efeitos sonoros sincronizados com o amassar dos papéis ampliam os gestos do ator). Djin Sganzerla, pessoa delicada e singela dotada de grande beleza, adquire em cena a máscara trágica de Sylvia Plath em seus últimos dias de vida e expressa sua angústia interior, suas fraquezas e sua dependência e amor por um homem que só a diminuiu e desprezou. Ilhada em Mim revela-se um belo momento do teatro, onde a poesia sobe à cena para contar um pouco sobre Sylvia Plath, por meio da memorável interpretação de Djin Sganzerla e da sensível e poética direção de André Guerreiro Lopes. Se eu fosse poeta escreveria muito mais...”
José Cetra Filho no livro “O Teatro Paulistano de 1964 a 2014”.